Poucos podem saber, mas existe uma enorme produção de filmes curtas-metragens em língua portuguesa, e grandes festivais voltados à exibição e premiação de curtas em todo mundo que sempre reconhecem ao premiar e projetar filmes em língua portuguesa.
Entre todos esses festivais não se pode deixar de mencionar o Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, a principal vitrine de filmes de curta duração de todo o mundo, a mostra foi fundada em 1979 e é o segundo maior festival de cinema Francês. No ano de 1990 o curta “Ilha das flores” do diretor Jorge furtado foi premiado como melhor curta daquele ano.
O curta brasileiro retrata a vida numa ilha muito pobre no estado de Santa Catarina, um narrador, com acidez e lógica impecáveis, mostra uma lógica desumana que rege as relações econômicas e sociais que fazem muitos terem muito e outros terem tão pouco. O filme é uma prova de como um roteiro bem estruturado pode alcançar o mesmos efeitos de um longa-metragem, porém, condensado em poucos minutos, um dos paralelos que podemos fazer entre longas e curtas-metragens é a relação conto e romance, a brevidade do conto deve conter toda a estrutura de uma ação completa e como um conto, o curta Ilha das flores nos mostra as consequências das ações humanas na natureza e na vida de outros seres humanos.
Outro curta, desta vez português, premiado e celebrado na mostra de filmes curtas em Bilbao foi “Altas cidades de ossadas”, que recebeu o prêmio Mikeldi de Oro Ficción, ao acompanhar a vida de Karlon e suas indas e vindas como rapper nas pedreiras dos húngaros, que era um bairro pobre de Lisboa.
As idas de vindas do rapper perseguido por forças institucionais ecoam resquícios de colonialidade nas corridas pelos canaviais de Cabo-verde e uma história que não se resolve tão facilmente, a fotografia com tons mais intensos e escuros ajuda na intensificação das emoções de quem aguarda um desfecho inesperado para uma história pouco usual, a ousadia do diretor João Salaviza foi reconhecida com mais que merecido premio do Zinebi em Bilbao.